A panela e o estetoscópio
Os objetos não fazem parte apenas de nossas vidas, eles podem também transformá-las e são capazes até mudar seus próprios destinos! Vejam só esta história.
Era uma vez uma panela que estava jogada no meio do lixão, toda suja, amassada e riscada, mas ela já tinha sido uma panela linda, enorme, toda de cobre e muito brilhante.
Um dia a panela estava tão triste, lamentando e chorando pelo seu destino cruel, que acabou chamando a atenção de um urso que estava no lixão procurando por restos de comida.
A panela ficou com medo quando viu o urso, pois ela poderia ficar mais amassada, se o urso pisasse nela. Mas o urso só se aproximou para conversar e saber o que tinha acontecido com ela.
A panela contou que sua ex-dona era uma bruxa muito malvada, que um dia preparou um feitiço nela que não deu certo. Ela só se lembrava de uma explosão e quando ela acordou já estava jogada no meio daquele lixão, toda deformada.
O urso ficou surpreso com a coincidência, porque ele virou urso depois de uma explosão também. Então, ele perguntou para a panela se essa bruxa vivia na floresta.
Quando a panela confirmou, o urso contou que ele era marceneiro e um dia ele estava pegando pedaços de madeira para fazer seus móveis na floresta, mas de repente houve uma explosão. Quando ele acordou, se viu transformado num urso e rodeado de outros ursos, lambendo suas feridas.
A panela e o urso estavam cansados de tanto sofrimento, que resolveram voltar para a floresta. Quem sabe algo ou alguém ali poderia ajudá-los?
Depois de alguns dias na floresta, um velho cruzou o caminho deles. Ele era muito sábio e logo percebeu que o urso e a panela tinham sido vítimas de algum feitiço. Mesmo antes do urso ou da panela dizerem alguma coisa, o velho logo ofereceu ajuda.
O urso e a panela ficaram muito curiosos em saber como aquele velho poderia ajudá-los. O velho abriu sua sacola, pegou um estetoscópio e entregou para eles. Ele explicou que o estetoscópio era para ouvir o coração da bruxa, porque qualquer pedido feito enquanto se ouve os batimentos do coração de uma bruxa é atendido.
A panela e o urso ficaram chocados e sem entender nada. O velho disse que só sabia o que fazer, mas como fazer eles teriam que descobrir. Mas, antes da panela e do urso continuarem sua jornada pela floresta, o velho os fez prometer que se conseguissem ouvir o coração da bruxa, eles teriam de pedir pela sua saúde também. Eles não acreditaram em nada do que o velho disse, mas prometeram assim mesmo, afinal não tinham nada a perder tentando.
Depois de mais alguns dias na floresta, um menino cruzou o caminho da panela e do urso. O menino era muito mal-encarado, metido a valentão e logo que viu o urso já quis começar uma briga, mesmo com o urso sendo enorme, muito maior do que o menino. Ameaçou o urso dizendo que ele era campeão de karatê, judô e até boxe. Quando a panela começou a falar, pedindo para ele parar de ameaçar o urso, o menino ficou tão assustado que ficou mudo e parado de repente. Ele ficou com mais medo da panela que falava do que do urso gigante.
Mas, depois de se recuperar do susto, o menino foi logo dizendo que não adiantava a bruxa ter enviado um urso e uma panela falante para assustá-lo, que ele ia achá-la de qualquer jeito e ia recuperar seu gato que ela tinha roubado dele também.
Então, a panela e o urso explicaram que não estavam atrás dele a mando da bruxa, muito pelo contrário, eles também queriam acha-la. Em seguida contaram toda a história deles para o menino.
Eles conversaram tanto que ficaram com fome, mas comer o que no meio da floresta? Por sorte, o menino tinha muita salada ainda na sua lancheira. O dia estava muito quente e eles estavam com sede e muito suados também por causa do calor.
Ainda bem que o urso lembrou de que havia um rio no meio da floresta. Foi difícil chegar até o rio, sob aquele sol forte, mas quando chegaram foi a maior alegria. Eles beberam bastante água e até se lavaram, refrescando o corpo todo.
A água do rio era tão calma e transparente que parecia uma piscina e os três estavam adorando ficar boiando no rio, só relaxando.
Mas, de repente, eles ouviram uma explosão bem próxima deles. Eles saíram do rio e foram atrás daquela fumaça preta. Logo eles viram metade de uma casa, pois o resto dela estava destruído.
Quando eles se aproximaram viram a bruxa segurando um gato preto pelo rabo, que tentava fugir dela desesperadamente.
Quando o menino viu seu gato já partiu para a briga. Ele deu um soco na bruxa, ela revidou com raios verdes em cima dele, ele escapou, tentou dar mais um soco, a bruxa escapou e mandou mais raios verdes em cima do menino, mas desta vez ela acertou. O pobre menino ficou estirado no chão.
O gato então pulou em cima da bruxa, até arranhou um pouco a cara dela, mas a bruxa mandou raios verdes em cima do gato também e, por pouco, ela quase acertou.
Enquanto a bruxa gargalhava de sua vitória, ela não viu que o urso estava atrás dela. Ele bateu bem forte em sua cabeça com a sua antiga panela.
A panela, coitada, ficou mais amassada ainda. A pancada na cabeça não matou a bruxa, ela só desmaiou. Mesmo com muita dor, a panela disse para o urso pegar depressa o estetoscópio, antes que a bruxa acordasse. Essa era a chance deles de ouvirem o coração dela e fazerem os pedidos.
Apesar do medo, o urso se aproximou da bruxa com o estetoscópio, ouviu seu coração e fez vários pedidos: para ele deixar de ser urso; para a panela voltar a ser bela como antes, mas com uma dona boa dessa vez. Depois pela saúde do menino e não se esqueceu de pedir pela saúde do velho também.
Todos os pedidos se tornaram realidade. Eles saíram de lá correndo, deixando a bruxa desmaiada no chão e com o estetoscópio sobre o seu coração.
Meses depois o marceneiro recebeu a visita do velho sábio, que queria agradecer por ele não ter esquecido sua promessa. A panela também recebeu a sua visita de agradecimento. Ele quase não a reconheceu, ela estava tão feliz e bonita, pois agora nela só se cozinhava para o bem. A sua dona era a mãe do menino, que deixou de ser mal-encarado, pois além do gato ele tinha mais amigos agora.
Em cada visita o velho perguntava a mesma coisa: como eles fizeram para ouvir o coração da bruxa? Depois, para surpresa de todos, ele retirava da sua sacola o mesmo estetoscópio. Todos queriam saber como ele conseguiu de novo aquele objeto, e eles sempre ficavam espantados com a sua resposta.
O velho encontrou a bruxa na floresta com o estetoscópio enrolado no pescoço como um colar e apesar da sua aparência horrorosa, ela agia e falava como uma criança. O velho simplesmente a convenceu a trocar o estetoscópio por um doce. Com certeza foi a pancada na cabeça que deixou a bruxa assim zureta, além de também fazer com que ela parasse de explodir as coisas.
Autor
Luis Guilherme Evangelista
Tânia Alves da Costa