Às vezes o castigo vem a urso!

A expressão “o castigo vem a cavalo” é bem popular, mas vocês irão perceber que às vezes o castigo vem a urso também.

Dizem que um menino chamado Mateus nunca ficava apressado mesmo quando jogava videogame até tarde da noite e não ouvia o seu despertador no dia seguinte. Ele acordava calmamente, se vestia e ainda tomava o café da manhã. Ele contava com a falta de pontualidade do velho Geraldo, motorista do ônibus escolar, que sempre se atrasava, porque dirigia muito devagar.

Um dia a monitora Ema, uma esfomeada, pediu para o Geraldo dar uma paradinha rápida na padaria no caminho para a escola. Ela queria comer um lanche. E foi quando o Geraldo parou o ônibus em frente à padaria que começou toda a confusão. A maioria das crianças desceu do ônibus e foi junto com a Ema à padaria. As crianças que ficaram no ônibus só choravam ou resmungavam porque elas tinham prova e não queriam se atrasar.

Lá, as crianças logo começaram a brigar entre si, cada uma queria comer uma coisa diferente da outra e não entravam num acordo, porque elas não tinham muito dinheiro e precisavam dividir as despesas.

O velho Geraldo ficou tão nervoso por não conseguir controlar aquela bagunça que ele começou a passar mal. A Ema precisou chamar uma ambulância para levar o Geraldo para o hospital.

Ema e as crianças se sentiram tão culpadas pelo mal-estar do Geraldo que todos quiseram ficar com ele no hospital. Todos esperaram por horas no pronto-socorro por um médico. A fome da Ema piorou. Por sorte, uma das crianças tinha chocolate na mochila.

Para piorar ainda mais essa situação, o sistema de atendimento eletrônico do hospital não estava funcionando. Assim, o atendimento era feito por ordem de chegada, através de preenchimento manual das fichas, o que deixava tudo mais lento e demorado.

A sala de espera estava lotada. Na frente do Geraldo havia muitas pessoas para serem atendidas ― elas já estavam lá muito antes deles chegarem.

Diante desta situação angustiante, Ema teve uma ideia: trocar a ordem das fichas de atendimento e colocar a ficha do Geraldo na frente das outras. Mas, para fazer isso, ela precisou da ajuda das crianças. Ela pediu para as crianças fazerem bastante bagunça na sala de espera. Assim, enquanto todos prestavam atenção nas crianças, Ema colocou a ficha do Geraldo na frente das outras.

Mas, para azar da Ema e das crianças, a bruxa Cizânia estava no hospital esperando pelo médico também e viu tudo o que a Ema tramou e ficou muito furiosa com todos eles, porque eles trapacearam e alteraram a ordem das fichas, o que ninguém ia gostar, mesmo quem não era bruxa. Ela gritou e xingou bastante a Ema e as crianças, e de repente ela lançou um feitiço sobre eles:

“Eu convoco os espíritos do mal do leste, do sul, do oeste e do norte. Esta é a minha vontade, verdadeira e livre. Faça-os ursos!”

As pessoas que estavam na sala de espera ficaram com medo e fugiram, pois Ema, Geraldo e as crianças viraram ursos! E eles também precisaram fugir do hospital, porque os seguranças chamaram a polícia e os bombeiros. Depois de tanto correrem, os ursos ficaram com sede e fome. Por sorte, eles acharam uma torneira para beber água e uma horta num sítio perto do hospital.

Todos estavam muito suados e sujos ― na verdade, estavam bem nojentos! Mas um deles tinha um sabonete e todos puderam se limpar. Em seguida, eles continuaram a sua fuga por uma trilha que encontraram.

O urso menor se machucou e começou a chorar e chamar pela sua mãe, porque sua pata não parava de doer.

De repente, a ursa Ema sentiu um cheiro diferente que vinha de uma casa perto dali. Era da casa da enfermeira Ana. A sua casa era tão perfumada, um perfume delicioso que acalmava.

Os ursos foram para a casa da Ana e nem precisaram explicar o que tinha acontecido com eles. Ela logo pegou um copo com água, colocou remédio e deu para o urso machucado. Em seguida chamou o seu gato.

O gato também era uma vítima dessa mesma bruxa. Ele disse aos ursos que era preciso capturar a bruxa, porque só ela podia desfazer o feitiço deles. Mas, quem poderia capturá-la? A enfermeira se lembrou de um caçador muito corajoso, o João. Conseguiram achar o caçador e ele aceitou o desafio.

O caçador procurou por vários lugares a bruxa. Estava quase desistindo quando soube que ela tinha sido vista no dentista. João duvidou, mas foi conferir! Ele até riu quando a encontrou. Porque capturar a bruxa e convencê-la a desfazer os feitiços foi tão fácil quanto brincar: bastou o caçador ameaçá-la, dizendo que se ela não desfizesse os feitiços nos ursos e no gato, ele não deixaria o dentista cuidar dela e ela iria continuar com muita dor de dente!

A bruxa logo concordou com o caçador e prometeu desfazer os feitiços. Ela tinha sido amaldiçoada pela Rainha das Bruxas, por isso vivia adoentada, sempre precisando da ajuda de médicos e dentistas.

Depois que eles deixaram de ser ursos, nunca mais furaram uma fila. A Ema mudou radicalmente, depois daquele dia. Ela deixou de ser esfomeada, emagreceu e resolveu ser modelo. Dizem que as crianças que foram enfeitiçadas cresceram promovendo campanhas para proteção de ursos. O gato era um belo jovem e creio que ele se casou com a enfermeira Ana. O caçador João ficou mais famoso. Além da sua fama de corajoso, agora ele era mais conhecido como caçador de bruxas. E da Cizânia, ninguém mais a viu ou ouviu falar dela.

Porém, até hoje há quem duvide dessa história, inclusive o velho Geraldo, que acredita que tudo não passou de um delírio enquanto ele se sentia mal! E você, acredita?!

 

 

 

 

 

 

Autores

Mateus Silva Neves dos Santos
Juliana (mãe do Mateus)
Tânia Alves da Costa

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